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Brasil e a armadilha da renda média

José Pastore

José Pastore é professor da FEA-USP, membro da Academia Paulista de Letras, e presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP.

Sair dela é difícil; se tudo continuar como está, o País ficará nessa arapuca durante 2024-2100
O Relatório Anual do Banco Mundial de 2024 é inteiramente dedicado à análise da situação dos países que caíram na armadilha da renda média (US$ 1.136 a US$ 13.845 per capita). Sair dela é difícil. Os países que chegaram à renda alta (US$ 13 mil e US$ 31 mil per capita ou mais) passaram por duas fases: infusão e inovação.
Para ocorrer infusão é indispensável: 1) um clima de investimentos favorável e acolhedor para as novas ideias; 2) disponibilidade de pessoal qualificado; e 3) políticas públicas que estimulem as empresas a captarem e incorporarem tecnologias globais. É o caso da Coreia do Sul. A renda per capita, que era de apenas US$ 1.200 em 1960, saltou para US$ 33 mil em 2023.
Para ocorrer a inovação é indispensável: 1) disponibilidade de profissionais talentosos; e 2) instituições e políticas públicas que premiem o mérito e estimulem a produtividade e a abertura da economia. Em 1980, a produtividade média dos coreanos era 20% da dos Estados Unidos; em 2019, passou dos 60%.
No caso do Brasil, dois históricos empecilhos têm inibido essa transição: 1) a qualidade da educação é muito baixa e a disponibilidade de pessoal qualificado é limitada; 2) as instituições e políticas públicas têm sido dominadas por grupos que resistem ao progresso porque ganham muito com o retrocesso de uma economia fechada.
A passagem pelas duas fases é marcada pelo processo que Joseph Schumpeter chamou de “destruição criativa”, no qual empresas eficientes prosperam e as ineficientes morrem, abrindo espaço para novas e produtivas.
Quando os países têm mais força para preservar do que para inovar, a referida transformação não ocorre. Para sair da armadilha, é necessário que as empresas nacionais sejam expostas à concorrência de empresas mais avançadas.
No Brasil, essa tese é geralmente atacada pelos grupos nacionais que afirmam haver graves desvantagens no ambiente brasileiro no que tange à tributação, infraestrutura, burocracia, encargos sociais, etc. – o que é verdade. Exatamente por isso, o Banco Mundial diz que a saída da armadilha necessita de muitas mudanças de natureza política, com instituições voltadas para a eficiência, mérito e concorrência. Se tudo continuar como está, conclui, o Brasil ficará nessa armadilha durante 2024-2100. Como se vê, quase tudo depende da educação e da política.